Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?Mario Quintana.
Colapso
raspas e restos me interessam
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Do amoroso esquecimento
quinta-feira, 13 de setembro de 2012
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Resíduos
De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).
Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço― vazio ― de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?
Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.
— Carlos Drummond de Andrade
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).
Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço― vazio ― de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?
Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.
— Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Confesso que ando perdida. E lentamente me afastando. Inconsciente e involuntariamente eu me afasto de pessoas, de promessas, de motivos, de verdades. Me isolando, talvez essa seria a forma mais correta de expressar a maneira como estou ultimamente. Criando uma muralha ao meu redor, impossibilitando qualquer contato. Na maioria das vezes, eu respondo sem nem ao menos ter uma noção da resposta, e ouço minha voz como uma música de fundo, como um som distante. Tão distante. Quando dou risada, por um breve momento, quase insano, pareço feliz, pareço normal. Eu tento agarrar essa falsa imagem de felicidade comigo por mais um minuto, mas ela se dissipa… Como fumaça, como vapor. É como tentar segurar água, como tentar segurar areia. Me sinto sozinha e não vou poupar o clichê, porque é exatamente como me sinto: Rodeada por pessoas, mas sozinha. Não consigo chamar de amigo pessoas que antes eu tinha certeza que o eram. Não consigo gostar mais de pessoas que antes me faziam melhor, e hoje, só me fazem pior. Não consigo simplesmente manter uma conversa com quem não me interessa. Ultimamente estou sendo direta, especifica. Posso contar nos dedos de uma mão as pessoas que conseguem fazer com que eu me esqueça das preocupações banais que insistem em permanecer comigo. E ainda assim, tenho a total consciência de que permaneço sozinha. Porque afinal, tenho certeza de que ninguém morreria por mim, ou ao menos chegaria perto da loucura pela minha ausência. Sei que eu não importo quase nada, e já aprendi a conviver com esse fato. Ele não me apavora mais.
domingo, 13 de maio de 2012
Vital
Se eu pudesse enfia-la por de baixo da minha pele, se eu pudesse respira-la, se pudesse ingeri-la, se pudesse de alguma forma mante-la dentro de mim a todo instante, querendo ou não... Mas de certa forma, ela está sempre lá, dentro da minha mente. Repetindo palavras que eu julgo tão bem colocadas, e que me entendem tão perfeitamente. Sempre me oferecendo conforto, me oferecendo um ombro como reconforto. Eu sinto a necessidade de toca-la, abraça-la, ter sempre por perto. Mas é meio impossível ter um contato tão real, tão carnal. De qualquer forma, estou sempre lhe ouvindo, na ida para escola, na volta. Durante o dia, antes de dormir. E quando os fones estão longe, ela permanece aqui comigo. Cantarolando baixinho, ou batucando com os dedos, mantenho-a perto.
Eu não sei como explicar essa necessidade que eu sinto. Por mais que eu tente, minhas palavras se limitam a simples "Não vivo sem você", ou "Você é minha vida". Posso dizer com total certeza, que a música supre tranquilamente a falta de gente. É minha melhor amiga, de longe. Toda vida.
Existe algo melhor? Bom, se existe, passa raspando por ela. Pela música. Consegue me transportar para qualquer lugar, em qualquer momento. E eu nem me movo. Consegue me arrancar lágrimas, e não são de tristeza, nem de angústia. São de emoção. Pois penso comigo "Música assim, nunca mais". Meus verdadeiros heróis, que conseguem - ou conseguiram - dizer tudo que eu nunca consegui.
Agora eu sei, que quem leva música a sério, é outro tipo de gente, outro tipo de mente. Há anos luz dos demais. Porque, se quer saber, na minha mera opinião a música é a essência da vida.
Sem mais palavras ao meu alcance que possam expressar esse amor que eu carrego dentro de mim, apenas deixo dito aqui, simples assim, a música é a melhor coisa do mundo.
Eu não sei como explicar essa necessidade que eu sinto. Por mais que eu tente, minhas palavras se limitam a simples "Não vivo sem você", ou "Você é minha vida". Posso dizer com total certeza, que a música supre tranquilamente a falta de gente. É minha melhor amiga, de longe. Toda vida.
Existe algo melhor? Bom, se existe, passa raspando por ela. Pela música. Consegue me transportar para qualquer lugar, em qualquer momento. E eu nem me movo. Consegue me arrancar lágrimas, e não são de tristeza, nem de angústia. São de emoção. Pois penso comigo "Música assim, nunca mais". Meus verdadeiros heróis, que conseguem - ou conseguiram - dizer tudo que eu nunca consegui.
Agora eu sei, que quem leva música a sério, é outro tipo de gente, outro tipo de mente. Há anos luz dos demais. Porque, se quer saber, na minha mera opinião a música é a essência da vida.
Sem mais palavras ao meu alcance que possam expressar esse amor que eu carrego dentro de mim, apenas deixo dito aqui, simples assim, a música é a melhor coisa do mundo.
quinta-feira, 26 de abril de 2012
segunda-feira, 23 de abril de 2012
"Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas."
-Pablo Neruda
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas."
-Pablo Neruda
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